SESSÃO
ESPECIAL: OUTRA REALIDADE DAS CRIANÇAS
MAIO
Dia 12/06/13
. Garapa
Direção:
José Padilha
2009
110min
P&B
Brasil
Dentre as
dezenas de escolhas que um documentarista tem de fazer ao se relacionar com seu
tema, José Padilha escolheu a fotografia em preto-e-branco para mostrar três
famílias do Ceará (duas do sertão, uma da periferia de Fortaleza) que escapam
diariamente da fome com a “garapa”, que no Nordeste é a mistura de água e
açúcar para tapear a falta de comida.
Por isso, o
documentário de Padilha se chama Garapa. Quando se tem uma realidade tão
impactante que torna difícil a tradução em imagens, o preto-e-branco é um dos
primeiros recursos à mão para dar conta da dureza de ver a fome não como
conceito abstrato, mas algo à frente do espectador. E um dos efeitos é de
chamar ainda mais a atenção em um mundo cinematográfico dominado pelas cores.
Se um dos
efeitos é berrar, visualmente, para o espectador, a falta de cores também
indica um Brasil que parou no tempo. Uma das várias facetas do país que não
deram certo. Aquela que o cearense Josué de Castro denunciava na década de 50
e, meio século depois, Padilha retoma para denunciar – o cineasta declarou em
Berlim que considera que há solução para a fome dentro do sistema capitalista,
cujo o excesso é um dos pilares.
Árdua tarefa
para o cineasta. Denunciar um assunto incômodo que todos conhecem. A ânsia, ou
a “paúra” como diriam os nordestinos, de chamar a atenção para o assunto,
apaixona Padilha. Ele tenta rebater essa paixão colocando-a na tela. Ou seja,
mexe profundamente com emoções, esbarra na culpa e na incessante busca de
influenciar o espectador.
Porém, Garapa pula,
ora para um lado, ora para outro. Usa a estética para mexer com o sentimento,
mas não deixa de usar números para “embasar” o que está na tela, como se o
retrato de uma mãe misturando açúcar e água para substituir o leite não fosse
suficiente para dar a mensagem ao espectador. Ou seja, toma total partido no
tema para depois tentar ser imparcial e objetivo.
Ora denuncia,
como um militante. Ora apenas mostra, como um observador de uma realidade
externa. Se em Tropa de Elite aponta algumas razões para que existam tipos
como Capitão Nascimento, Garapa é a extensão de uma longa cadeia que
desemboca na fome. Padilha morde: o preto-e-branco emociona e o que há na tela
causa até vergonha individual de comer; Padilha assopra: a fome é quase uma
entidade abstrata, cujos culpados não estão no plano político, econômico ou
coletivo.
O resultado
do documentário está mais para a catarse, o choque imobilizante, do que para o
clamor de uma ação efetiva.
Reproduzido
de Cineclick
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